Querido leitor,
Deixo aqui minha carta de pronunciamento para quem não pode comparecer no dia da Audiência Pública em Cuiabá-MT.
Att, Malu.
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Discurso elaborado e
pronunciado por Malu Brandão, líder do Movimento Ciclovia Já, Acorda Cuiabá, dia
13.07.2015, na Audiência Pública para debater a importância de um PLANO
CICLOVIÁRIO PARA A CIDADE DE CUIABÁ e outros assuntos relativos ao ciclismo
urbano, na Câmara Municipal de Cuiabá, promovida por autoria dos Vereadores
Dilemário Alencar e Arilson da Silva.
Vereadores
Dilemário Alencar e Arilson da Silva
Em nome
de ambos cumprimento a mesa e os demais presentes
Não é preciso elencar o sem número de
vantagens do uso da bicicleta. Já é de conhecimento de todos os benefícios para
o transporte, lazer, melhoria da saúde, economia, promoção de uma cidade mais humana,
inclusiva e harmônica.
Há também a questão da sustentabilidade.
Sabemos que o planeta já se agoniza
e precisa de soluções; lembremos que até 2050 o mundo precisa reduzir
drasticamente o uso de combustíveis fósseis, substituindo por energias limpas e
renováveis. Não
é futuro: é presente!!! E Cuiabá não pode estar fora disso, precisa fazer sua tarefa e dar
exemplo.
Em relação ao trânsito, o uso do
transporte cicloviário (em conjunto com o pedonal e o coletivo) contribui para
a redução de congestionamentos e de acidentes que são muitas vezes fatais. Também
reduz a poluição do ar, sonora e visual, além de permitir uma melhoria do desenho
urbano.
A Lei 12.587 de 2012 previa até 3 anos para que cada cidade elaborasse o seu Plano de Mobilidade Urbana (que deve andar junto com o Plano Diretor). Ou seja, o prazo acabou, e nem mesmo soubemos aproveitar a Copa do Mundo. E agora? Para piorar, vamos perder recursos federais?
Vejamos alguns dados:
· Começando
com o mais grave: 70% dos leitos hospitalares são ocupados por acidentados no
trânsito (geralmente envolvendo motocicletas). Várias iniciativas, temos visto,
têm sido tomadas pela SEMOB e devem ser parabenizadas. No entanto, temos ainda
um longo caminho a percorrer.
· Temos
aproximadamente 34 km de
ciclovias e ciclofaixas, ou seja, praticamente nada, considerando o porte da
cidade. Destes, 20 km precisam ser recuperados e requalificados (avenidas
Arquimedes Pereira Lima, das Torres, Tatsumi Koga). E outros 10 km foram recentemente
construídos pelo atual Governo do Estado, iniciativa esta que também parabenizamos.
· Para
a Copa do Mundo, infelizmente a bicicleta não foi prioridade. No projeto
anterior, ainda no período da AGECOPA, 19 ciclovias foram previstas no Plano de
Mobilidade, entretanto, somente 02 (duas) foram consideradas pela SECOPA, e
mesmo assim, não estão concluídas.
· Na
Pesquisa Origem Destino de 2005, para Cuiabá-Várzea Grande, o número de deslocamentos
diários realizados pelos ciclistas chegava a 54 mil viagens, equivalente a 7%
do total de viagens feitas em todos os modos (muito mais que a média nacional que
era de 2%). Segundo o Prof. Dr. Luiz Miguel de Miranda, do Núcleo de Estudos de
Logística e Transporte da UFMT, este número de viagens deve ter subido
atualmente para algo em torno de 70 mil viagens.
· Estamos
realmente atrasados, Rio Branco com uma população de apenas 100 mil habitantes,
já possui 160 km de malha cicloviária. Campo Grande com 90 km. E até Lucas do
Rio Verde, no interior, tem 30 km, com proposta para chegar a 70 km em breve.
· Outro
problema acontece nos parques Mãe
Bonifácia e Massairo Okamura que
não permitem a entrada dos ciclistas, as bicicletas não são “bem-vindas”, não
há caminhos exclusivos para elas. Nem tampouco existem suportes para
trancá-las. Com certeza, é ótimo termos uma ciclofaixa de lazer aos domingos, mas o que fazer se, no seu
destino final, não se pode nem mesmo estacionar a bicicleta para curtir o
parque?
· Em
Cuiabá existem 67 praças, mas em nenhuma
delas há paraciclos. Também raramente existem em prédios públicos e privados,
como em shoppings centers, comércios em áreas centrais, bibliotecas, escolas e
universidades, dentre outros.
Como representante do “Movimento Ciclovia Já”, e considerando
nossa atuação voluntária na luta por uma cidade melhor, entendemos que podemos contribuir
com a elaboração do Plano de Mobilidade de Cuiabá. Até porque a
Lei 12.587/2012 prevê a participação dos diferentes segmentos da sociedade civil,
no planejamento, na fiscalização e na avaliação.
Assim sendo, e aproveitando a
oportunidade, propomos oito ações básicas:
1.
Estudar
as necessidades dos usuários e reformar
as ciclovias e ciclofaixas existentes;
2.
Incluir
a bicicleta, principalmente para trabalhadores
e estudantes, ligando os bairros
mais carentes e periféricos com as centralidades existentes, promovendo a integração com outros modais, como
ônibus e VLT;
3.
Instalar
paraciclos nas praças e locais
comerciais;
4.
Construir
ciclovias que atravessem os parques,
não só para lazer, mas para criar atalhos, permitindo fuga do trânsito intenso,
mantendo segurança e estimulando o uso da bicicleta;
5.
Criar
Zonas 30 em regiões do centro
histórico e ruas locais bem movimentadas, permitindo o compartilhamento das
vias;
6.
Priorizar
sinalizações, qualidade do
pavimento, adequação de bocas de lobo, paisagismo,
iluminação e limpeza não só das vias
cicláveis, como também das calçadas, criando uma gestão de manutenção permanente;
7.
Promover
a educação de trânsito de forma frequente
nas escolas e no dia a dia do trânsito, mostrando o significado de uma cidade
onde as pessoas possam conviver, andar mais a pé, de bicicleta e de transporte coletivo,
ajudando a tirar a ideia de reinado e status do automóvel;
8.
Propor, nas renovações das
habilitações da CNH, exames teóricos e práticos, ou aulas expositivas que
incluam os cuidados com os pedestres e ciclistas. Não se pode permitir que carros e motos invadam o espaço das
bicicletas e pedestres como vem ocorrendo. Isso é repugnante!
Concluindo, não
podemos continuar com projetos feitos simplesmente em cima do ‘Google’. É
preciso sair da frente do computador e colher informações in loco, observar, entrevistar as
pessoas, fazer testes reais utilizando as bicicletas, para conseguir com
clareza como a cidade está funcionando. Como diz o urbanista dinamarquês Jan Gehl,
pequenos testes devem ser feitos de
forma que grandes projetos, possam ser colocados em prática.
Nós do movimento Ciclovia Já, estamos à disposição para contribuir com a
Prefeitura Municipal, o IPDU, a SEMOB, a Secretaria das Cidades, o DETRAN, e
demais órgãos envolvidos. Com nossa experiência como usuários e engajados na
questão, podemos opinar, ajudar nos testes práticos, identificar problemas e
sugerir soluções.
Conhecimento técnico, engenharia,
normas, legislação. Já temos todas as informações e ferramentas. O que precisamos é FAZER! E aprender a
trabalhar em conjunto. Como foi dito no recente Congresso Brasileiro de Mobilidade,
em Santos: Infelizmente “AGIMOS JUNTOS,
MAS NÃO CONJUNTAMENTE!”. Temos que mudar essa prática.
É um grande desafio, mas não podemos protelar.
É fundamental inverter a ordem de prioridade ao repensar a cidade. O automóvel
deve perder a primazia. Pensemos
primeiro no pedestre, em seguida a bicicleta e o transporte coletivo. Os grandes urbanistas
sabem disso e assim defendem. Cidades exemplares no mundo assim já o fazem.
Por fim, a simples ideia e reforço
aqui: não é
demanda que vem primeiro!!
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